Scott Benson traz um momento de reflexão para os profissionais de criação que são a mente e mão-de-obra produtora das peças de comunicação com as quais temos contato todos os dias. Criativos são responsáveis pela perpetuação de conceitos, de desejos, de costumes e de consumo de produtos e seviços que acabam por definir os valores e modo de organização da população.
Já parou para pensar sobre qual o impacto real das peças que produz ou consome?
"Como artistas, animadores, designers e outros criativos, muitas vezes somos chamados a emprestar os nossos talentos e habilidades para dar uma cara nova a um produto, uma empresa, ou uma idéia. Fazemos anúncios de campanha política e comerciais de refrigerantes. Doamos nosso tempo para promover pequenas coisas que nos fazem sentir bem e trabalhamos para reformulação de algumas das piores corporações do mundo. Nós fazemos as duas coisas, porque é parte do negócio. Um dia é uma cara verde amigável em um poluidor conhecido e no próximo é uma grife que quer aparentar ser um movimento social. Às vezes é um vídeo de música cuja representação das mulheres é questionável, às vezes é um anúncio político cujos fatos que conhecemos não são bem assim.
Que responsabilidade temos, se for o caso? Eu não estou condenando ninguém em particular e eu não estou dizendo que precisamos de algum tipo de esquadrão perambulando controlando um ao outro. Mas eu conversei com tanta gente nesse negócio que se vê apenas como uma ferramenta a ser utilizada, um ser mais senciente* que uma instalação do Photoshop. Porém somos mais do que nossas cópias do Adobe Creative Suite. Nós somos mais do que o nosso lápis. Somos mais do que nossas estações de trabalho e nossa lista de clientes. Estamos conscientes, escolhendo pessoas. Nosso talento é poderoso. Mas estamos muitas vezes mais interessados em quão grande é o nome, o salário e como nós podemos ser criativos, que podemos esquecer o nosso impacto real.
É ser profissional fazer trabalhos para clientes com os quais discordamos ativamente ou isso é abrir mão de uma parte de nós mesmos que é profundamente humana? São ideais como um sinal de ingenuidade ou algo precioso para ser guardado?"
É ser profissional fazer trabalhos para clientes com os quais discordamos ativamente ou isso é abrir mão de uma parte de nós mesmos que é profundamente humana? São ideais como um sinal de ingenuidade ou algo precioso para ser guardado?"
Scott Benson
* Senciência é a "capacidade de sofrer ou sentir prazer ou felicidade". Não inclui, necessariamente, a auto-consciência.
Na animação a seguir, Scott cria uma peça publicitária que promove a segregação.
De acordo com a qualidade da produção e de conceitos publicitários bem utilizados, acaba por conseguir mostrar um péssimo ideal de uma maneira leve e até mesmo convincente, como vemos em inúmeros exemplos da publicidade real.
Rebranding:
Na animação a seguir, Scott cria uma peça publicitária que promove a segregação.
De acordo com a qualidade da produção e de conceitos publicitários bem utilizados, acaba por conseguir mostrar um péssimo ideal de uma maneira leve e até mesmo convincente, como vemos em inúmeros exemplos da publicidade real.
Rebranding:
Criado no After Effects por Scott Benson
Confira trechos da entrevista de Scott para a Motiongrapher :
"O
objetivo era fazer um pequeno comercial engraçadinho para algo terrível
mas não de uma forma que todos achariam graça. Sou um cara que ri e
brinca o tempo todo mas queria que o vídeo fosse levado a sério. Portanto, procurei um conceito que deveria ser universalmente abominado e ainda ser vendido de maneira razoável e acessível. A segregação parecia
ser o conceito perfeito para tal. É uma história terrível, mas pode ser
explicada de uma forma que faz sentido se você não pensar a respeito.
Afinal, por que pessoas diferentes não iriam querer viver em lugares
separados? Se você para nesta questão, parece até altruísta. O conceito
da peça pode ser facilmente expressada e vendida para o espectador
antes mesmo que ele perceba com o que está concordando.
Umas das razões pelas quais as pessoas se sentem exaustas, degradadas ou infelizes neste mercado é a dificuldade em obter um tratamento justo, com número razoável de horas de trabalho e remuneração. Outra razão, é que criativos podem se sentir alienados do trabalho porque estão produzindo trabalhos que odeiam e sentem que não podem fazer nada a respeito. Há um medo de que se você recusa um determinado cliente, então você recusa todos eles, de que é anti-profissional trazer um ideal para uma escolha no trabalho. Acredito que este argumento nasceu da eficiência econômica e do medo - é ineficiente ser um idealista e teme-se ser incapaz de se pagar o aluguel.
Um amigo meu, um designer, postou uma citação de um cara de uma grande marca, dizendo que ele não queria apenas que as pessoas quisessem seus produtos, mas que os transformassem em parte de suas vidas. Isso coloca grande responsabilidade nos profissionais criativos, assim como nos consumidores.
Acredito que é nossa responsabilidade fazer escolhas. Tanto designers como pessoas em geral, vêem a si mesmos como simples objetos ou um ponto de uma narrativa de grande porte. Eles se preocupam apenas com o trabalho na mão. É como ouvir um utensílio descrever a si mesmo - "Eu sou um garfo. Eu garfo coisas. Eu só vou garfar. Alguém poderia me esfaquear no brócolos ou na cara de alguém - Não faz diferença para mim, porque eu sou um garfo". Acredito que todos nós podemos agir desta forma às vezes, mas é importante lembrar que nós podemos escolher, podemos pesquisar, tomar decisões difíceis, podemos ser pró-ativos e criativos. Se um artista opta por trabalhar em algo com o qual ele possui um conflito ético ou ideológico, então ele deve possuir essa decisão e não culpar a "indústria". Nós não somos "a indústria" quando vamos para a cama à noite. Nós somos apenas pessoas que fazem coisas. Temos essas escolhas a fazer. Levantei-me esta manhã e escolhi ser um animador e você pode ter escolhido ser um designer ou produtor, ou o que for. Aceite esta escolha e estenda para o que você faz.
Pense no que faz e como isso afeta os outros. Eu não acho que a publicidade é inerentemente "maléfica", mas as coisas que as pessoas fazem com ela, muitas vezes podem se encaixar nessa descrição. É simplesmente o uso nesta indústria e, talvez, a natureza ubíqua da mesma que deixa tanta gente raivosa. Pense criticamente. Se você encontrar algo sobre o seu projeto questionável, faça perguntas de forma respeitosa e tome suas decisões. Essas decisões vão parecer diferentes para todos mas pelo menos elas estão sendo feitas. E entre esses projetos, trabalhe em coisas que importam para você pessoalmente, coisas que são definidas por você que expressam o que acredita e suporta. Você vai se tornar mais criativo e vai se sentir mais conectado com o fruto real de seu trabalho se investir não apenas na execução de um projeto mas nas idéias por trás dele. Fale com outras pessoas. Eu recebi grandes mensagens desde a publicação de Rebranding e você ficaria surpreso com quantas pessoas estão pensando sobre isso."
Scott Benson
Postado por Andressa Yamashita
Fundadora Deoos TV
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