2.6.11

Sin City (2005) - Crítica + Making of



Baseado em quatro contos da graphic novel Sin City, de Frank Miller, o filme Sin City, A Cidade do Pecado (2005, dirigido por Robert Rodriguez e Frank Miller) narra a vida na suja e apaixonante Basin City, e conta a história de três homens distintos, situados em um mesmo contexto. Em busca de vingança ou de redenção, todos têm em comum o mesmo motivo que os leva a envolver-se em corrupção e a cometer crimes: o fetiche por uma ou mais mulheres, tão bonitas quanto perigosas.

Não apenas mais um filme baseado em histórias em quadrinhos, e não apenas mais um film noir: Sin City é um exemplo bem sucedido de homenagem a ambos. Após recusar inúmeras ofertas de adaptação da sua obra, Frank Miller achou em Robert Rodriguez a proposta estética e narrativa perfeita para a fiel reprodução de sua tão estimada criação.

Fã inquestionável dos films noirs, Frank Miller transpôs aos quadrinhos aquilo que foi levado às telonas décadas antes, em 1940. A saga Sin City, lançada nos anos 90, reconfigura os recursos cinematográficos do gênero, integrando-os à criação de seu próprio universo em quadrinhos: Sin City é uma cidade sedutora, que apresenta personagens arquétipos (femmes-fatales, policiais trapaceiros, alienados, bodes expiatórios), desesperados em um ambiente que não tem piedade. O assassinato, geralmente carregado de ciúme, corrupção e fraqueza moral, é um elemento que permeia toda a trama.

Com a saga, Frank Miller trouxe para os quadrinhos o que ficou conhecido por graphic novel (distinguindo as histórias sequenciais do formato tradicional de quadrinhos), que não apenas trouxe reconhecimento literário para a produção quadrinística, como ampliou seus parâmetros ilustrativos, uma vez que a narrativa em imagens ganhou espessura nos jogos de luz e sombra, alargando sua relação com o mundo real em três dimensões.

Robert Rodriguez aproveita a temática da graphic novel, bem como dos policiais noir, e reproduz um filme onde as histórias são todas situadas na suburbana Basin City, com personagens recorrentes e casos co-relacionados. A ficção criminal embalada por uma narração em off do protagonista masculino, amargurado e politicamente incorreto; a ação que segue vertiginosamente; os personagens expondo seus dramas em monólogos ou em frases curtas de efeito; e a forma de mostrar a violência extremada de um submundo que foge de qualquer tipo de lei e a ideia de “pecado generalizado”, são alguns elementos muito bem adaptados da prosa da graphic novel para a estrutura narrativa deste filme no melhor estilo noir.

Seus personagens tipificados pouco têm de individualidade. Suas atitudes e seus amores são repetições atávicas de um universo-amálgama que os ultrapassa como criação singular. Marv, um brutamontes durão e violento, que passa a trama toda tentando vingar a morte da bela Goldie, é um exemplo clássico do anti-herói noir. O Detetive John Hartigan, talvez o único policial honesto de toda a corporação, é o melhor modelo do protagonista que está inevitavelmente fadado ao fracasso, quando a única solução que encontra para proteger a sua amada Nancy é o suicídio, enfatizando a ideia de que ninguém vence no final. O Detetive Bob, parceiro de Hartigan, é um exemplo de policial corrupto. Todas as meninas da Cidade Velha (zona de meretrício da cidade) são modelos de mulheres sedutoras e fatais. Por fim, Becky, a prostituta que delata as mulheres da Cidade Velha pela morte do policial Jackie Boy, é o clássico exemplo de traição e corrupção.

Quanto à estética, a adaptação também não deixa a desejar. A aparência plástica do nanquim está traduzida perfeitamente num trabalho de contrastes exacerbados, e luzes e sombras duras e bem delimitadas, aliados às mais recentes técnicas de CGI para alguns elementos (em sua maioria os carros).

O visual expressionista, a imagem em preto e branco e os cenários noturnos, bem como alguns recursos como ângulos de câmeras não-convencionais e
pessoas filmadas em espelhos, são traços herdados dos films noirs e usados em abundância em Sin City.

A preocupação do diretor em manter no cinema a mesma experiência estética da mídia original levou-o a mimetizar formas de desenho e movimento próprios do gibi. Tomando os quadros da graphic novel como “planos-guia”, estes foram reproduzidos impecavelmente na filmagem e na pós-produção, resultando em planos de câmera pouco usais na linguagem cinematográfica, mas bem característicos das histórias em quadrinho. Podemos ver a seguir alguns dos exemplos mais extremos de ângulos de câmera do filme, em comparação a quadros da revista.


Outros traços marcantes dos quadrinhos, e que compõem também a estética do filme Sin City, são: o destaque de elementos saturados (geralmente sugerindo a sexualidade) em meio à composição preta e branca; a supervalorização do corpo feminino; as rugas, marcas e cicatrizes bem definidas; o caráter austero do sangue jorrando; as cenas em negativo (branco no preto); as cenas impossíveis de se acontecer, entre outras. Abaixo, exemplos de alguns destes traços característicos:



Sensual, cruel e engraçado, Sin City é diferente de tudo o que já foi produzido na indústria do cinema até hoje. Robert Rodriguez deixa transparecer a sua idolatria pela graphic novel, garantindo ao espectador o mesmo deleite proporcionado pelos quadrinhos.
Através da emulação não só narrativa, como estética, foi possível transladar o universo daqueles quadrinhos para o da imagem em movimento, sem alterar o “espírito” do original. O resultado é um filme visualmente impecável, que resgata a plasticidade das histórias em quadrinhos, completamente fiel à trama original, e que ultrapassa o limite da realidade humana.

Veja alguns trechos do making of (em inglês)



Trailer do filme



Postado por Elisa Rodrigues
Colaboradora Deoos TV

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Um comentário:

Anônimo disse...

ESSA CRÍTICA FOI MUITO BEM FEITA