7.7.11

Entrevista com Carlos Saldanha, diretor de A Era do Gelo e Rio (2011)

A loja virtual Submarino promoveu ontem, 06/07/11, em sua fanpage do facebook, um bate-papo com Carlos Saldanha, diretor de Rio e A Era do Gelo.

Tamanha honra se deve ao lançamento em Blu-Ray de sua última produção -o filme Rio-, que será comercializado pelo site. No bate-papo, onde Saldanha respondia por vídeo às perguntas que os fãs faziam via chat, o diretor falou sobre detalhes técnicos da produção dos filmes Rio, A Era do Gelo, seus personagens preferidos, dicas para trabalhar com animação, e ainda sobre os rumos que a animação está tomando.

Apaixonado por desenho desde pequeno –o gosto por computador e videogames veio na adolescência-, ele não chegou a fazer nenhum curso de artes e assume que não era um grande desenhista, apesar de acreditar que sempre teve talento para coisa. “O computador nunca foi uma barreira para mim. Conseguia através do computador me expressar criativamente. E, no início, ele ajudou muito a suprir minhas limitações, minha falta de técnicas de desenho.”, disse em uma entrevista para o jornal O Estado de São Paulo.
No fim dos anos 80, Saldanha trabalhava como analista de sistemas quando decidiu juntar dinheiro para fazer um curso de computação gráfica em Nova York. Os curta-metragens que produzia no curso chamaram a atenção de um professor, que o incentivou a fazer um mestrado. Sem dinheiro, o menino de 22 anos contou com a ajuda de uma conhecida brasileira que morava em Nova York, que primeiro lhe ofereceu sua casa para morar, e depois bancou seu curso. Acontece que aquele professor era ninguém mais, ninguém menos que Chris Wedge (com quem Saldanha co-dirigiu o primeiro A Era do Gelo), que tinha uma produtora modesta na época, a Blue Sky. Naquele tempo, eles se sustentavam fazendo comerciais de TV, mas sempre sonhando em fazer filmes. Até que a 20th Century Fox comprou o estúdio, e o sonho dos meninos foi realizado!
Hoje, Saldanha é o brasileiro mais bem-sucedido em Hollywood de todos os tempos, ao menos em termos de bilheteria (só os dois primeiros filmes da franquia gelada arrecadaram mais de U$S 1 bilhão).



Confira, a seguir, algumas perguntas que Saldanha respondeu aos fãs e entusiastas da animação, no rápido bate-papo que aconteceu ontem na fanpage do Submarino no facebook:

Chat: Carlos, quais os caminhos e formas para conseguir fazer um roteiro virar uma animação?
Carlos: Nos EUA, geralmente eles usam um agente, que manda para os estúdios o roteiro, que será interpretado e aceito, ou passado para frente. É um processo que não é fácil. São vários roteiristas com a mesma intenção - fazer seu filme dar certo. A maneira mais fácil é através de um agente, que tenha os contatos e possa correr atrás do projeto.


Chat: Quanto tempo demora pra concluir um roteiro?
Carlos: Durante a produção de uma animação, a gente nunca conclui o roteiro: vai fazendo e escrevendo. Mas um roteiro básico demora mais ou menos uns seis meses. Em live action, o roteiro é a sua bíblia. Na animação, é um processo em evolução, você o tem como uma base. Você tem a história fechada, mas tem as cenas que você pode criar, e tal. Então a criação do roteiro é um processo quase que diário, durante os 2 ou 3 anos de produção.


Chat: Como funciona a escolha da equipe de criação, e dos personagens?
Carlos: Nós temos uma equipe de artistas, com quem trabalhamos junto durante o processo. A gente faz a seleção dos artistas baseado no talento de cada um, no traço. Não são todos iguais, cada um tem um estilo, o que é legal, mas todos conseguem trabalhar juntos para um fim único. A escolha dos personagens também é um processo contínuo. A gente começa com várias ideias, vários elementos, e trabalhamos neles até chegarmos ao resultado final, ao que estávamos procurando.


Chat: Como escolher a trilha sonora para um filme?
Carlos: Você tem que sentir um pouco o filme para saber como montá-lo. No caso de Rio, a gente dependia da música para fazer a animação. É um processo que começa com uma ideia, e envolve todo o filme. Nós contamos a história do filme, e os responsáveis pela trilha começam a compor umas músicas, me mostram, e eu vejo se eu gosto. Como esse filme foi muito musical, nós tivemos uma equipe muito forte. Tivemos a ajuda do Sergio Mendes, do Carlinhos Brown, que veio fazer a parte de percussão, do Will.I.Am... É um processo muito gostoso, mas que demora. Normalmente, quando o filme não tem música embutida nele mesmo, o processo é inverso: primeiro faz o filme, e depois a trilha.


Chat: Tem algum projeto que você deseja realizar no futuro?
Carlos: O que eu mais queria eu já realizei, que foi o Rio. Eu tinha este projeto há mais de 10 anos na minha cabeça. Agora, estou buscando novos projetos. Novos Rios (risos). Novos projetos que eu queira fazer. Agora eu tô na fase de férias, mas sempre pensando em novos projetos.


Chat: Vai ter Rio 2?
Carlos: Quando a gente fez A Era do Gelo 1, não sabíamos se teria o 2 e o 3. Mas antes mesmo de terminar o 2, já sabíamos que teria o 3. Para o Rio 2, ainda não foi aprovado nada, mas já estamos pensando em novas ideias.


Chat: De todos os personagens, qual o seu preferido?
Carlos: É difícil. Eu sempre curti muito o Cid, o Scrat. O Scrat é um personagem muito legal de animar. E no Rio tem personagens fantásticos. Eu adoro o vilão, o Nigel, acho um personagem muito divertido de fazer. Tem o bulldog, que eu adorei também. Mas eu gosto de todos. Vou ser democrático, todos são maravilhosos.


Chat: Vai ter A Era do Gelo 4?
Carlos: Vai, e já esta sendo feito. Não por mim, desta vez eu tô na equipe de direção executiva. Agora eu tô de férias, mas o pessoal já está lá, suando a camisa. É praticamente a mesma equipe que já trabalhou comigo em A Era do Gelo, e são pessoas fantásticas, que estão trabalhando duro pra fazer A Era do Gelo 4.


Chat: Tem alguma ideia de fazer um filme só com o Scrat?
Carlos: Já tivemos várias ideias, mas ele é tão imprescindível para A Era do Gelo que preferimos mantê-lo como ator convidado (risos). Se pintar a ideia de fazer um longa só com ele, tudo bem, mas por enquanto ele tá bem colocado em A Era do Gelo.


Chat: Quais são as ferramentas usadas para a animação dos seus filmes?
Carlos: Nós usamos um Maya turbinado para a animação. Temos nosso próprio software para a renderização, que já está conosco desde o princípio da Blue Sky. Usamos bastante o Photoshop para textura, pintura, retoque, tudo. Temos vários softwares para efeitos especiais. Mas animação, no geral, é feita com Maya.


Chat: Ainda há espaço para a Animação 2D?
Carlos: Tem, claro! Só que é diferente... A procura maior tá pra 3D, mas ainda tem o mercado de 2D. Até mesmo, quem sabe, o 2D queira entrar no 3D. A gente gosta que a pessoa tenha a experiência do 2D. O importante é saber animar, ter a compreensão de como é a animação, dominar a arte de animar. E o 2D e o 3D são só as ferramentas. Ou seja, tem espaço pra todo mundo.


Chat: Qual o futuro da animação no Brasil?
Carlos: Depende muito do desenvolvimento dos projetos. Existem muitos animadores, muita vontade de fazer animação, várias pessoas escrevendo roteiros... A questão é dar o pontapé inicial: criar uma estrutura, para que as pessoas consigam dar continuidade. O futuro é buscar fazer projetos maiores, de longa-metragens, talvez, porque curta já tem bastante. Tem muita gente fazendo curta e publicidade, o que é muito legal, mas é a parte de cinema que eu acho que tem que ser mais explorada. Tem um filme aqui, um filme ali, mas poucas grandes produções.


Chat: Você pode nos passar algumas dicas de como ingressar nesse mercado?
Carlos: Vou dar um conselho bem simples, que não vale só para a parte da animação, como também da arte como um todo. Eu gostava muito de desenhar, gostava muito de computação gráfica. Não sabia se era isso que eu queria fazer, mas corria atrás. E tô sempre correndo atrás!


Pra mim, o conselho básico é: ver se você realmente gosta, se você realmente tem aptidão, talento. É um trabalho, como qualquer outro, árduo, não só de diversão. Tem que se dedicar pra poder fazer um trabalho.


Então, a questão imprescindível é: é o que você quer? É o seu sonho? Segunda dica: corra atrás. E terceiro: continue estudando, continue aprendendo. Eu trago muitas experiências dos filmes anteriores, mas têm sempre novidades, sempre coisas novas pra aprender. Faça que nem o esquilo de A Era do Gelo: corra sempre atrás da noz, não perca tempo (risos). Aproveite as oportunidades. Se pintar uma oportunidade, vai atrás. Tem que ser focado e com objetivo.


Chat: Como você vê o cinema infantil, ou o chamado cinema para a família, no Brasil?
Carlos: Eu não estou muito envolvido nos processos no Brasil. O que eu mais vejo são exposições internacionais. Eu não tenho muita noção de como tá o mercado aqui, mas eu ainda acho muito pouco explorado. O cinema voltado pro público adulto tá muito mais desenvolvido do que a parte infantil. Claro que tem as produções clássicas, como as da Xuxa e dos Trapalhões, mas tiveram outros filmes legais também, como O Menino Maluquinho. Acho que tem bons projetos e boas ideias, mas não está tão desenvolvido como o cinema para adultos, com produções muito boas, como, por exemplo, Tropa de Elite.


Chat: Carlos, deixe um recado para o pessoal que está acompanhando o nosso bate-papo:
Carlos: Gente, muito obrigado! Pena que o tempo é muito curto... Estou no Brasil para promover o Blue-Ray do Rio, que vai ser vendido no site do Submarino. Nele tem um pouco do making of do filme, do processo de criação de músicas, acho que vocês vão curtir! E pra galera da animação: não percam o gás! Corram atrás! Se esse é o seu sonho e o que você quer fazer mesmo, corra atrás! Vale a pena!

Nós que agradecemos ao Saldanha pelas produções incríveis!

A seguir, um dos personagens preferidos do diretor, o vilão Nigel de Rio, numa performance tirada do filme:



Confira mais informações sobre o filme e nossa crítica postada no Deoos TV

Postado por Elisa Rodrigues
Colaboradora Deoos TV

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