29.7.11

Descobrindo a Animação: Motion Graphics


O que é o Motion Graphics? Como surgiu este estilo de animação com que convivemos todos os dias, e às vezes nem ao menos sabemos do que se trata? Deoos TV explica tudo, tim-tim por tim-tim, para ninguém ficar de fora desta onda que certamente já tomou a sua telinha.

Pela definição da Wikipedia, Motion Graphics são gráficos (imagens) que usam vídeo e/ou animação para criar a ilusão de movimento ou a transformação de um meio aparente. Estes gráficos em movimento são usualmente combinados com áudio para uso em projetos multimídia.

O motion graphics, como imagem em movimento, está vinculado a um conjunto de formas de expressão que nasce com o cinema, e se estende para o filme de animação, até chegar à TV e ao vídeo. Ele traz referências de cada uma dessas linguagens, uma vez que, de certo modo, nasce e herda delas algumas das suas convenções, códigos e relações estabelecidas ao longo de cerca de um século com a sociedade.

O termo “motion graphics” é relativamente novo, sendo usado com mais freqüência dos anos 80 em diante, e não há uma definição aceita universalmente. Alguns o entendem numa acepção mais abrangente enquanto que outros o interpretam de forma bem específica.

O que é motion graphics?

Até os anos 70, as mais significativas incursões de design gráfico no cinema e na TV eram realizadas em película, utilizando técnicas de animação convencional e trucagem. A visualidade típica dos projetos até esse momento era marcada pela combinação de elementos gráficos bidimensionais animados, incluindo tipografia, e imagem real em movimento. O resultado remetia aos conceitos de colagem e fotomontagem, já conhecidos e explorados nas artes gráficas desde o início do século XX, acrescido da dimensão de tempo e de movimento.

Isso mudou apenas a partir dos anos 80, com o forte incremento tecnológico na área de computação gráfica, e o desenvolvimento de ferramentas de modelagem e animação 3D avançadas. Nesse período, por exemplo, todas as grandes redes de televisão nos centros mais importantes aderiram às animações de logotipos, marcas e objetos com volume no espaço tridimensional como estilo de identidade visual. Aproximadamente na mesma época, começaram a surgir os primeiros sistemas de composição e manipulação de imagem em movimento por computador, que permitiam combinar e animar livremente camadas de imagem de todo o tipo (vídeo, fotografias e elementos gráficos diversos). A chegada dessas ferramentas estimulou, no universo digital, uma retomada da visualidade anterior de colagem dinâmica de imagens bidimensionais. Foi nesse momento que surgiu o termo motion graphics, precisamente para designar esse tipo de produção.

No início, os sistemas digitais de composição de imagem em movimento eram extremamente caros e de arquitetura fechada. Um pouco mais tarde, já em meados da década de 90, surgiram novas soluções de software nessa área, bastante acessíveis, baseadas em computadores de uso pessoal, de arquitetura aberta, configuráveis pelos próprios usuários, e mais fáceis de se aprender a usar. Esses últimos avanços tecnológicos conduziram a um verdadeiro boom de produção em motion graphics, com reflexos especialmente expressivos no chamado broadcast design (aplicações de design gráfico para a imagem temporalizada da TV, como as vinhetas, aberturas de programas etc.)

Hoje, após a virada do século XX, os programas atuais de composição de imagem em movimento para computadores de uso pessoal incluem recursos de animação 3D, e incorporam, a cada versão, uma quantidade imensa de novas opções de manipulação de imagem, resultando num crescimento das possibilidades de criação.

Em suma, o termo motion graphics pode ser entendido como uma área de criação que permite combinar e manipular livremente no espaço-tempo camadas de imagens de todo o tipo, temporalizadas ou não, juntamente com música, ruídos e efeitos sonoros.


A história do motion graphics

As raízes do motion graphics encontram-se nas aplicações de design gráfico, no cinema, na TV, e nas experiências plásticas de alguns tipos de cinema de animação menos preocupados com a representação do real e a narrativa linear. A seguir, estão listadas as principais referências históricas desta última mídia.


- Filmes de animação

Foram os artistas modernistas que primeiro apresentaram propostas de animação que se aproximam da noção projetual do motion graphics. Um dos trabalhos mais conhecidos dessa fase pioneira é “Ballet Mechanic” (1923), realizado por Fernand Leger, ligado ao movimento cubista. O filme constitui-se de uma edição frenética de imagens filmadas. Algumas delas são tratadas quase como fotografias de elementos recortados em fundo neutro, enquanto outras são refratadas por prismas em múltiplas visões. Há ainda o registro de objetos gráficos, tipografia, dígitos, e inclusive a figura de uma espécie de boneco cubista com membros reunidos numa colagem e animados com a técnica de stop motion, num resultado parecido com o que se faz modernamente no motion graphics.





O artista americano Man Ray produziu filmes surrealistas que chamava “invenções de formas luminosas e movimentos”. Em “Anemic Cinema” (1925-26), feito em colaboração com Marcel Duchamp, há alternação de planos mostrando discos ora com espirais ora com textos em movimentos giratórios, produzidos com uma máquina especialmente criada para esse fim.



Simpatizante do movimento Dada, o músico e pintor sueco Viking Eggeling criou o filme “Simphonie Diagonale” (1924), que explora a correlação de música com formas e movimentos de figuras abstratas. As formas, constituídas de linhas retas e curvas, variam a orientação, a espessura, o tamanho e a opacidade. Esses procedimentos são típicos e muito utilizados nos trabalhos atuais de motion graphics.



Hans Richter, alemão vinculado ao dadaísmo, se dedicou ao estudo das propriedades cinéticas da forma em desenhos deslizantes, e depois em filmes de animação. Boa parte deles foi realizada a partir de formas geométricas abstratas simples contra fundos neutros, e permutações de formas positivas e negativas. Ele dizia fazer uma “orquestração do movimento e do tempo” para criar “composições cinéticas de formas plásticas puras”. Ficaram conhecidos filmes seus, tais como “Rhythm 21” (1921), “Rhythm 23” (1923), com animações de quadrados e retângulos, e “Filmstudie” (1925), com mais elementos visuais, de forte influência dadaísta.







Buscando incorporar o movimento ao seu trabalho como pintor, o alemão Walter Ruttman fundou sua própria companhia e produziu uma série de filmes denominada Opus, testando as possibilidades de interação de formas geométricas. Em “Opus 1” (1919-21), por exemplo, animações de formas curvas fluidas, quadradas e pontiagudas, filmadas em preto e branco e depois pintadas à mão, hora se alternam e hora se relacionam no quadro.



O neo-zelandês Len Lye é outro expoente do cinema de animação experimental importante como referência para o motion graphics. Seu primeiro filme, “Tusalava” (1929), foi inspirado na arte indígena da Austrália. Trata-se de uma animação pintada à mão e filmada quadro a quadro, que sugere um universo orgânico, que Lye definia como “um cruzamento entre uma aranha e um polvo com sangue circulando através de seus tentáculos”. Mais tarde, desenvolveu técnicas manuais de interferência direta na película cinematográfica que permitiram, por exemplo, combinações multicamadas de registros de cenas reais, por vezes em silhuetas ou em alto contraste, com padrões dinâmicos de elementos gráficos, textos e objetos variados, inclusive com cor. Na Inglaterra, entre outros filmes consagrados, produziu as animações “Colour Box” (1935), “Rainbow Dance” (1936), “Trade Tatoo” (1937), “Colour Flight” (1938), e “Swinging the Lambeth Walk” (1939).







Noman McLaren, nascido no Canadá e o maior expoente do “National Film Board”, é descrito como o poeta da animação. Foi influenciado por Oskar Fischinger, e experimentou soluções muito parecidas com as de Len Lye, com diversos trabalhos baseados em interferências na película de cinema, e muitas outras técnicas. Produziu inúmeros filmes a partir de elementos abstratos, que utilizam abordagens semelhantes às usadas em motion graphics. Podem ser destacados três filmes produzidos por Norman McLaren nos anos 60: “Mosaic”, feito apenas de pontos se movendo no quadro, e “Lines Vertical” e “Lines Horizontal”, que contam apenas com linhas retas. Em todos eles, a animação procura formar configurações variadas dos elementos contra fundos de cor chapada de acordo com a evolução da música que os acompanha.







Numa outra vertente dos filmes de animação importantes como referência histórica do motion graphics, situam-se os pioneiros da animação por computador. Um dos mais importantes foi o americano John Whitney, considerado um dos pais da computação gráfica. Começou a trabalhar com seu irmão James a partir dos anos 40. Utilizou suas técnicas iniciais de animação mecânica na abertura do filme “Vertigo”, de Alfred Hitchcock, em parceria com o designer Saul Bass. Tudo indica que foi o primeiro a utilizar o termo “motion graphics” ao fundar sua empresa Motion Graphics Inc. em 1960. Em 1961, fez o filme “Catalog”, usando um computador analógico mecânico inventado por ele para produzir aberturas de cinema e TV e comerciais. O filme, certamente influenciado pelo trabalho dos animadores de filmes experimentais citados acima, constitui-se de uma compilação de animações de formas abstratas acompanhadas de música. Nos anos 70, Whitney adotou processos digitais e produziu um outro importante filme, “Arabesque” (1975).





Stan Vanderbeek, cineasta underground americano muito atuante nos anos 60-70, possui uma obra especialmente significativa para o motion graphics. Seus primeiros filmes, produzidos entre 1955 e 1965, são quase que totalmente apoiados em técnicas de colagem animada, envolvendo principalmente figuras recortadas de fotografias, como em “A La Mode” (1958), “Science Friction” (1959), e “Achooo Mr. Kerrooschev” (1960). Em seguida, passou a incorporar elementos de computação gráfica em seus filmes, a exemplo da série “Poem Field” (1966-67) e Symmetricks (1972).





E hoje?

Hoje, o motion graphics é utilizado principalmente no broadcast design, em produtos como:

- Créditos de abertura e encerramento, para cinema e TV.
- Vinhetas de identidade visual
- Suporte de infografia para programas jornalísticos e esportivos (elementos
informativos de suporte para matérias jornalísticas e coberturas esportivas)
- Videoclipes

No Brasil, a Rede Globo, com designers renomados na área, é a rainha na produção destas vinhetas animadas. O motion graphics ajudou a emissora a firmar sua identidade visual, e um pouco de sua história pode ser contada a partir deste vídeo, que reúne todas as vinhetas transmitidas entre 1973 e 2007.



Agora, para ver um motion graphics, basta ligar a sua TV em qualquer canal:

Record



Band



MTV



Discovery Channel



Discovery Kids



Programa CQC



E, pra fechar com chave de ouro, um belo exemplo que comprova que o motion graphics pode (e deve)  também ser divertido! A animação é do diretor Pierre-Emannuel Lyet , do estúdio francês Doncvoila.





Postado por Elisa Rodrigues
Colaboradora Deoos TV

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2 comentários:

Anderson disse...

Muito bom! Parabéns pela matéria Elisa!!

Norman Andrade disse...

Por curiosidade, Você me dizer qual tipo de software se usava pra realizar esse tipo de vinheta dos anos 60, 70, 80 ou que tipo de técnicas de cinema usavam pra criar os efeitos?

Obrigado e gostei da matéria.